The Future of Bible Study Is Here.
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DÉCIMO SEGUNDO SERMÃO: Gênesis 27.11–19
Disse Jacó a Rebeca, sua mãe: Esaú, meu irmão, é homem cabeludo, e eu, homem liso. Dar-se-á o caso de meu pai me apalpar, e passarei a seus olhos por zombador; assim, trarei sobre mim maldição e não bênção. Respondeu-lhe a mãe: Caia sobre mim essa maldição, meu filho; atende somente o que eu te digo, vai e traze-mos. Ele foi, tomou-os e os trouxe a sua mãe, que fez uma saborosa comida, como o pai dele apreciava. Depois, tomou Rebeca a melhor roupa de Esaú, seu filho mais velho, roupa que tinha consigo em casa, e vestiu a Jacó, seu filho mais novo. Com a pele dos cabritos cobriu-lhe as mãos e a lisura do pescoço. Então, entregou a Jacó, seu filho, a comida saborosa e o pão que havia preparado. Jacó foi a seu pai e disse: Meu pai! Ele respondeu: Fala! Quem és tu, meu filho? Respondeu Jacó a seu pai: Sou Esaú, teu primogênito; fiz o que me ordenaste. Levanta-te, pois, assenta-te e come de minha caça, para que me abençoes.
Temos de dar seguimento aqui ao propósito que começamos ontem, ou, seja, que Deus dirigia a Isaque, Rebeca e Jacó, de tal sorte que, não obstante, as falhas que lhes eram inerentes não o impedissem de pôr em execução aquilo que havia determinado concernente à bênção de Jacó e a rejeição de Esaú. E, no entanto, isto não significa isentar Isaque de sua parte, como se ele não fosse repulsivamente culpado, e que iguais falhas não fossem encontradas em Rebeca e em Jacó. Deus, porém, as passou por alto. E, assim, vemos que Deus nada espera dos homens, nem depende deles, quando a questão diz respeito à realização de seu conselho. É bem verdade que ele os usará para que sirvam aos seus objetivos; porém mostra, por seu turno, que ele opera tudo sozinho e movido por si mesmo. E quando suas criaturas o servem como instrumentos, não o fazem senão para seu agrado, e não como se ele estivesse jungido a alguma necessidade; sim, e muito embora as coisas no tocante aos homens sejam muito mais adversas do que parecem, contudo isto mostra que seu poder é suficiente, de modo a não carecer do auxílio de outrem.
Ora, já dissemos que, nesta questão de Jacó, pode-se ver como ele se viu presa da dúvida, e isto era contrário à fé. Portanto, cumpre que Deus, de um lado, supriu esta carência. A esse respeito, lemos que ele porta a maldição. É por isso que ele sabia que a seu pai se ordenara que ele ordenasse um herdeiro, não só para os benefícios terrenos e transitórios, mas da promessa que pertence à vida espiritual. Ele tinha ciência disto, e portanto respeitava não só um homem mortal, mas sobretudo o Deus vivo. Ora, no tocante a Rebeca, ela diz: “Que a maldição esteja sobre mim”. Percebemos como ela foi precipitada (como tratamos ontem), de tal sorte que falava, por assim dizer, a esmo; porém não há dúvida de que, nesse meio tempo, ela não sabia que isto não podia prejudicar. É verdade que ela não ponderava bem em sua falha. Porque, embora tivesse bons motivos de obedecer a Deus, e então considerar que sua eleição podia manter-se em pleno vigor, não obstante ele não teria praticado, nesse meio tempo, tal astúcia para manter o direito, onde nada havia senão enganos e mentiras. Pois Deus (como já dissemos) é infinitamente capaz de cumprir sua própria obra e conduzir seu próprio conselho ao fim colimado. Ele não precisa tomar de nós algo por empréstimo. Portanto, não é lícito, por uma razão mais forte, fazer triunfar sua verdade por meio de mentiras. Rebeca, porém, agiu assim. De modo que no tocante a isto ela não pode ser justificada. Mas este exemplo aqui não é posto diante de nossos olhos a fim de que imaginemos também a mesma coisa. Pois ocorrerá que, em todas as experiências, estaremos prontos a misturar nossas fantasias, a fim de que nossos problemas se resolvam bem. E isto se dá porque não cremos que Deus é suficientemente sábio; ou, melhor, é como se ele não fosse suficientemente forte, ou não tivesse em mãos os meios de levar os problemas a um bom fim e resultado. Mas, ao agirmos assim, porventura não tentamos (como se diz) controlar a Deus, dizendo: “Muito bem, é verdade que ele o faz, mas de que maneira?”. Por certo que não de conformidade com seu conselho, e de conformidade com seu poder e infinita pujança, e sim em conformidade com alguma coisa leve, e acima de tudo queremos que essa coisa seja efetuada de acordo com o que imaginamos e forjamos em nosso próprio cérebro. Pois diremos: “Eu noto que isto é bom; este meio é muito bom e necessário”.
Mas, porventura somos tão sábios que realizaremos isto corretamente e deitaríamos nossa mão em algo de tal gênero? Notemos, porém, que Deus não ordenara assim por sua palavra. Eis, pois, uma temeridade que não poderia surgir. E, no entanto, isto é muito comum, e todos acharão este vício em sua descendência. Mas, tanto mais devemos aprender a nada adicionar o que é propriamente nosso, visto que temos em nós perenemente esta miscelânea corrupta, então temos, desta ou daquela maneira, de expulsar de nossas cabeças. E, quando tivermos agido assim, segundo nossa aparência e forma, nada mais faremos senão emaranhar e subverter tudo. Mas, se Deus não atribui tais falhas à nossa responsabilidade, e contudo executa sua obra, isto não é para que nos gabemos, como amiúde fazem os que se excedem e dizem: “Oh, é verdade que isso aconteceu, mas foi porque Deus perdoou esta loucura e, no entanto, não deixou de nos sustentar, a despeito de não sermos dignos disso”. Aprendamos, pois, a de modo algum justificar nossas presunções, quando Deus fizer prosperar o que temos arrogante e perversamente intentado; mas, tanto mais engrandeçamos sua misericórdia, quando virmos que, embora lutemos contra ele, e tentemos, de todos os modos, a protelar sua obra, no entanto ele jamais deixa de dar-lhe sequência. Isto é o que sucintamente temos de apreender sobre este texto.
Em seguida, Jacó saiu em busca de dois cabritos, trazendo-os a sua mãe, para que ela preparasse uma deliciosa refeição do tipo que ela bem sabia que Isaque degustava com prazer. E após ela haver vestido a Jacó com as roupas de Esaú, e também de vestir nele as peles, o resultado foi que ele parecia um homem peludo e rude.
Aqui, porém, é possível julgar que este cenário era por demais infantil e recreativo, porquanto envolvia a simulação de comida, pois ela tomou um cabrito, no lugar de alguma gazela; e, depois de o pai haver comido e já estar bem saciado, ele abençoou a seu filho, e que isso foi, por assim dizer, uma recompensa por seu jantar, e segunda vez veio disfarçadamente, como se estivesse num palco, a imitar seu irmão Esaú, vestido com as roupas deste, com seus pulsos, seu pescoço e suas mãos cobertos, e em tudo isso nada mais se via senão motivo de gargalhada. No entanto, para que sejamos mantidos em reverência, e tiremos proveito desta história, aprendamos a visualizar aí a eleição divina, da qual já se fez menção previamente. Porque, se não tivermos este fundamento, com certeza, em tudo o que Moisés recorda não descobriremos nada que acaso nos mova, ou nos propicie alguma persuasão de que isto era guiado e administrado do alto. Mas, quando nos sentirmos convencidos de que Deus dera a Jacó a primogenitura, antes mesmo de seu nascimento, então teremos de observar bem e visualizar essas coisas ordenadas tão estupidamente por pessoas de um zelo inadvertido, e não deixaremos de confessar: “Deus, que é perenemente imutável, ainda quando os homens, através de sua obstinada ousadia e tola presunção, transtornem e lancem tudo de ponta cabeça, não obstante seu conselho permanece íntegro e perfeito”. É isto, pois, que temos de notar a fim de extrairmos algum proveito desta história. Além do mais, ao lermos que Jacó foi ter com seu pai, e lhe disse: “Eu sou teu filho Esaú, come e bebe”, é possível perceber-se como os homens se endurecem quando uma vez tentam fazer algo movidos por um zelo inadvertido, quando se tornam mais e mais ousados. A princípio, Jacó nutria dúvida: “Se eu [dizia ele] for achado como zombador diante de meu pai, ele me amaldiçoará”; mas, daqui a pouco, não se preocupa com nada, se expressa tão ousada e francamente, como se quisesse dizer que tinha certeza de estar no lugar de Esaú. No entanto, desse fato temos de observar que, antes de começarmos algo, temos de pensar se Deus nos dá sua permissão e se ele nos guiará; temos de nos precaver para que em tudo o que fazemos e empreendemos nada mais haja senão plena obediência. Porque, uma vez tenhamos, como se diz, ultrapassado nossos limites, e imaginamos fazer isto ou aquilo, não importa se no princípio tivemos algum escrúpulo e grande dificuldade, no fim fecharemos nossos olhos e iremos longe demais. E quando todas as objeções do mundo estiverem diante de nossos olhos, ainda assim será ferrenha nossa obstinação.
Visto, pois, que os homens são por demais empedernidos em seus tolos e temerários conselhos, e que vemos um exemplo tão notável disso em nosso pai Jacó, tanto mais (como eu já disse) atentemos bem para que não movamos sequer a extensão de um dedo, até que saibamos se Deus permitirá fazer o que pretendemos, e tenhamos tomado conselho de sua Palavra. Pois então não podemos ser tão ousados, quando lhe formos sujeitos e quando não houver em nós tola presunção de seguirmos nossa própria fantasia. No entanto, nada podemos fazer de nós mesmos, por menor que seja, que não seja demais. E, por isso (como eu já disse), aprendamos a começar bem, até o fim, para que, finalmente, alcancemos o que desejamos. Mas, no que aqui é expresso por Moisés, podemos ter uma figura que não será inapropriada, a saber, que ainda quando Isaque fosse enganado, que Esaú não estivesse ali, e que Jacó, por sua leviandade, obtivesse sua bênção, não obstante em tudo isso temos aqui uma imagem daquela bênção que nos é dada por Deus. Porquanto lemos no primeiro capítulo de Efésios: “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção” [Ef 1.3]. Que sorte de bênção é essa? Ele mesmo acrescenta: “em Cristo”. Pois se Deus reparasse bem em nossas pessoas, seríamos seus inimigos, e inevitavelmente nos detestaria em virtude do pecado. Visto, pois, ser assim, cumpre que sejamos abençoados fora de nós mesmos, a saber, na pessoa de nossa Cabeça.
E, ademais, temos de ser vestidos com o manto de nosso Senhor Jesus Cristo. Pois o que podemos apresentar senão total imundícia e poluição? Nossa inteira constituição é toda ela iniquidade. Portanto, não passamos de cheiro nauseante diante de Deus. Mas, quando somos revestidos com a obediência de seu Filho unigênito, então há em nós aroma suave, mediante o qual lhe somos aceitáveis. De modo que (como já dissemos), embora, com respeito aos homens, não existe senão confusão, estando, por assim dizer, tudo embaralhado, não obstante podemos aplicar isto para nosso proveito. Jacó era como que um espelho de toda a Igreja; e no entanto fomos abençoados em sua pessoa, como ele foi abençoado na pessoa de seu irmão mais velho. Pois a questão aqui não é de achar-se semelhança perfeita. Se alguém disser que Esaú não se assemelhava a Jesus Cristo, isso procede; mas, numa comparação, não se requer que cada parte e parcela seja concordante. É suficiente que vejamos alguma concordância e semelhança em parte; como lemos que a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo será como um ladrão de noite. Como assim? Porventura ele é ladrão? Seria uma estultícia pensar assim; no entanto basta que vejamos que os que no mundo dormem serão despertados de repente. Assim agora, quando falamos da primogenitura de Esaú, e que Isaque representava a pessoa de Deus, e que Jacó foi abençoado sob a roupa e semelhança de seu irmão, daí vemos aquilo que foi realizado, o que alegamos ainda agora, a saber, que seremos preteridos, se nos apresentarmos em nosso próprio nome e em nossa própria pessoa com o fim de obter o favor divino. Mas, quando nos apresentarmos ali sob a sombra de nosso Senhor Jesus Cristo, que é o primogênito no seio de todos os filhos de Deus, então veremos que seremos recebidos. Não obstante, lemos: “Jacó foi a seu pai, e disse: Meu pai! Ele respondeu: Fala! Quem és tu, meu filho? Respondeu Jacó a seu pai: Sou Esaú” [vv. 18, 19]. Mas, inclusive, ele não confiava em si mesmo, ainda quando pudesse parecer haver alguma fraude. Pois ele lhe disse: “Então, disse Isaque a Jacó: Chega-te aqui, para que eu te apalpe, meu filho, e veja se és meu filho Esaú, ou não” [v. 21].
Vemos aqui que Isaque nutria dúvida, e, não obstante, a bênção não deixou, no tocante a Deus, de ter sua virtude e efeito; como também lemos que ele o abençoou na presença de Deus. Mas é bem verdade que, se tivermos nossos olhos fixos em Isaque, diremos que este ato foi mal orientado, e que ele não mereceu ser considerado em qualquer grau de perfeição; mas que Deus o operou (como já dissemos), e não só quando os meios inferiores falharam, mas quando eram contrários, e era como se fosse totalmente abolido aquilo que fora determinado. Mas tanto mais nos cumpre observar bem que, muito embora Deus use os homens em sua obra, e lhes confira esta honra de servir aí como instrumentos, contudo nada existe de sua parte, e podemos dizer: “De modo que nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega” [1Co 3.7].
Aqui, porém, Isaque, em vez de plantar e regar, ao contrário, arrancou e decepou a bênção, tornando-a estéril e destituída de fruto. Mas, seja o que for, Deus ainda era servido aí. Porque, se ele tivesse plantado e regado, de fato teria feito apenas em parte; porém não realizou plenamente como devia; e no entanto, nesse meio tempo (como eu já disse), a bondade de Deus suplantou, a despeito das falhas e vícios em suas criaturas. Seja como for, podemos dizer bem que Isaque, ao duvidar, merecia ser privado daquele estado e ofício que lhe foram dados, a saber, que ele perdera a graça de Deus, até onde a salvação do mundo inteiro estava embutida. Este é o tesouro que lhe fora confiado; no entanto, por sua incredulidade, ele merecia ser privado dele. Deus, porém, não quis que fosse assim. E, a quem o atribuiremos? Era preciso que sua mercê fosse aqui engrandecida, já que no homem não existe amparo algum, nem algo que lhe corresponda, senão que tudo lhe é contrário. E, no entanto, notemos bem que ninguém era mais obtuso em relação a Deus do que ele. É verdade que já vimos previamente que ele tinha os olhos empanados, e que já era de idade bem avançada, que era um homem já meio morto. No entanto, isto não sucedeu naturalmente, ou, seja, que ao ouvir a voz de Jacó ele se deixou enganar tão nesciamente, a ponto de não imaginar: “Há alguma fraude nesse meio”. Aqui ele tem dúvida, e no entanto segue em frente e, a despeito de ser contra sua vontade, ele abençoou a Jacó no lugar de Esaú. Seria preciso, pois, que Deus o embotasse, para que não fosse só uma questão de idade. E isto é o que eu já disse, a saber, que Deus guiava sua obra de tal modo que, embora os homens a obstruíssem e a estorvassem, e era como que a revertessem completamente, não obstante o fim e o resultado eram tais que transparecia que Deus executava aquilo que pronunciara, seguindo sua eleição secreta que fora decretada antes da fundação do mundo. E assim sabemos que, em tudo o que Isaque fez, nada havia senão um tipo de estupidez, que sua obtusidade era tal que não havia nele qualquer entendimento ou discernimento, nem qualquer juízo, e não obstante Deus fez isto prevalecer. De que forma? Como ele faz o pão que comemos conter energia para nutrir-nos? Quando tivermos comido e bebido bem, e formos renovados e saciados, de modo a não pudermos dobrar este braço nem mover esta perna, contudo teremos novas energias para empreendermos uma viagem. Diremos que isto se deve ao fato de o pão conter algum poder, alguma vida ou algum movimento? Quando, porém, percebemos que o pão nos dá aquilo que ele não possui, bem como o trigo e o vinho e outros alimentos, isto é assim para que saibamos que Deus não usa suas criaturas de tal sorte, em alguma obra em que ocuparíamos aquilo que vemos com nossos olhos, tenhamos em mente perenemente isto: que ele dispõe a ordem da natureza, e igualmente nos guia e governa, sim, e até mesmo o que é contra a natureza, que muitas vezes ele agirá contrariando totalmente aquilo a que estávamos acostumados, de sorte que tal coisa nos deixará atônitos, principalmente quando a questão envolve nossa salvação. E no entanto não devemos imaginar que de nossa parte trazemos alguma coisa de lá, senão que é Deus quem deve realizar tudo, porque ele o começou e o consumará. E, ademais, se ele opera de um modo estranho e não costumeiro, e que nada existe senão uma tola exibição externa, saibamos (no dizer de Paulo) que “a loucura de Deus é mais sábia do que os homens, e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens” [1Co 1.25].
Ora, ele chama “loucura de Deus” segundo nossa ótica; pois ele opera de uma maneira desprezível, para que sejamos forçados a imaginar: “O que é que Deus está dizendo? Parece que ele se diverte e zomba”. É bem provável que seja esta nossa conclusão. E esta é a razão por que Paulo diz ser loucura, porque os homens se apoiam em seus próprios sentidos externos. Mas, seja como for, isto excede a toda a sabedoria do mundo. Notemos, pois, o que temos de apreender. E, quando tivermos rememorado bem esta lição, não seremos como um grande número de cabeças atordoadas, as quais tomam todos estes fatos como aventura, e em consequência disso ridicularizam, como se tudo o que é aqui rememorado por Moisés nada mais fosse do que, como se diria, apenas tola trivialidade.
Quando, porém, tivermos aprendido o que aqui nos é mostrado pelo apóstolo Paulo, sem dúvida teremos outro método de sobriedade, e jamais cessaremos de adorar o segredo de Deus, ainda quando à primeira vista ele não glorifique a si mesmo; mas atentaremos para o começo e o fim, e não para aqueles meios que porventura nos propiciem uma ocasião, e gere em nós algum escândalo, ou que nos absorva. Em suma, vemos que Deus dirigiu Isaque de tal sorte que ele ficou totalmente cego. Não diríamos, pois, que Deus aqui deu a Isaque alguma disposição a fim de fazer aquilo que pertencia ao seu ofício, conhecendo bem a causa e tudo quanto procedia da matéria; mas ele ficou cego, e no entanto o mantinha, por assim dizer, pela mão, e o guiava como a um cego que nada vê. E deveras vemos na Igreja algo que corresponde a isto, ou, melhor, se lhe aproxima bem, porque (como dissemos ontem) a pregação do evangelho “é o poder de Deus para a salvação de todo o que crê” [Rm 1.16].
Quando, pois, proclamamos a graça de Deus, pela qual somos reconciliados, visto que nossas falhas nos são perdoadas em nosso Senhor Jesus Cristo, e que o sangue que ele derramou por nós é a genuína purgação delas, o qual nos purifica. Portanto, Deus descerra os céus e nos chama para si, muito embora a palavra proceda da boca de um homem. Mas, nesse meio tempo, não sei a quem isto será proveitoso. Pois cada um será testemunha de sua própria fé. E, quando falo, e não recebo daí minha parte, ai de mim! Então eu seria mais que cego; como também o foram aqueles que proclamarem o evangelho e forem testemunhas da graça de Deus, e atraíram à salvação pobres pecadores, não obstante não lhes restar nada mais senão condenação. E por que é assim? Porque se assemelham a atores em quem não existe nem afeto nem zelo. Assim, pois, Deus será servido amiúde por pessoas de nenhum valor, as quais parecem cães e suas próprias imundícias. E no entanto são ministros de seu poder para atraírem à salvação aqueles que jazem no caminho da destruição. Ademais, há mercenários que pregam em prol de seu próprio ventre, e não levam em conta nada e a ninguém, senão a si próprios; ou, pior ainda, conseguem ser mui estimados. E, no entanto, são estes os instrumentos de Deus para a salvação de todos os crentes. E às vezes, no melhor dos casos, digo que eles se obrigariam mui fielmente a cumprir seu dever em chamar os pobres pecadores à salvação, a ser guias e exemplos a todos os demais. No entanto, estes não descobrirão o que Deus fará. Por quê? Semeiam a santa semente, e não sabem como a fará prosperar. E às vezes pensam em abençoar, e amaldiçoam. E por quê? Porque seria preciso que a vingança divina fosse preparada para todos os escarnecedores. O evangelho é proclamado para que encontremos um Deus misericordioso para com todos nós. Mas há muitos que, através de seu desprezo e ingratidão, acumulam para si próprios condenação. Pois o evangelho lhes será “aroma de morte para morte” [2Co 2.16], no dizer de Paulo; ou, seja, um aroma mortífero, que bastará um sopro para que desapareçam de vez, como vemos ainda em nossos dias. Deus opera através dos ministros de sua Palavra, para que alguns sejam totalmente cegos, e outros sejam cegos só em parte. Pois os mercenários de quem temos falado são totalmente obtusos e de nada sabem. Mas os bons e fiéis ministros, ainda quando tenham ciência de que seus olhos são ofuscados, contudo são ignorantes para que Deus torne o trabalho deles proveitoso, ou age de tal modo que às vezes o propósito deles seja totalmente subvertido.
Portanto, é isto que temos de aprender. E, entrementes, visto que Deus nos declarou que sua Palavra é a via de acesso para a vida celestial, e que ele ratificará tudo quanto os homens pronunciarem com base nela, em seu nome, guardemos isso para nós e não duvidemos (não importa qual seja nossa carência, seja em relação àquele que fala, ou àquele que ouve) de que, não obstante, quando recebermos esta palavra pela fé, e ela for fielmente e em verdade entregue a nós, seremos participantes desta bênção. E nesse fato podemos ver a bestialidade de todos aqueles falsos e deploráveis mestres do papado, por cujo estigma têm fundado aquele ídolo que possuem para fazer um deus de um bocado de pão. Dizem: “Se um sacerdote não tiver intenção de consagrar, então esta é nula; e é pela intenção daquele que consagra que o pão se transforma em deus”; de modo que seriam idólatras em todas as suas missas (falo de sua própria doutrina) se não cumprem esta condição. Pois como sabermos (dizem) se o sacerdote que consagra cumpre seu dever como deve, ou se sua mente está em sua cozinha ou camareira? Porque, ao agir assim, o pão permanece pão; não existe nenhum deus. Por quê? Porque dizem: “Se sua intenção não estiver ali, seu ato fica nulo”. Mas é mui verdadeiro que assim mostram sobejamente bem como um erro atrai outro; porque, visto que lhes parece haver uma mudança operada no pão que se transforma na substância de nosso Senhor Jesus Cristo, por cujo ato inventaram aquele mesmo amuleto, a saber, adicionam diretamente a intenção.
Não obstante, vemos que nada sabem da natureza dos sacramentos. Deixo agora de falar desta conversão que imaginam e a que chamam transubstanciação. Mas se aquele que ministra o sacramento, e tem esta incumbência e vocação, mantém o povo jungido à sua intenção, o que resultará? Um homem perverso que batizar, pode estar zombando de Deus, e por esse meio anula completamente o sacramento; e então, quando ministrar o sacramento da Ceia, os pobres indivíduos estarão sendo ridicularizados quando vierem buscar aí um penhor de sua salvação; e o ministro, manifestamente, estará desprezando a Deus. Em suma, eles reteriam o poder de Deus (o qual mui notavelmente ele manifesta nos sacramentos), encerrando-o em sua mão. E que blasfêmia é esta, e quão detestável é! Vemos, porém, a que ponto chegaram. Pois é certo que na missa, se tivessem um anjo ali, contudo jamais ela deixaria de ser algo diabólico. Mas, em contrapartida, se houvesse um demônio na Ceia que é ministrada, contudo Deus não deixa de realizar sua obra. Não devemos olhar para a dignidade daquele que ministra o pão ou o vinho na Ceia. Deus, porém, de tal modo nos tem instruído aí, que tem imprimido poder no sinal visível; é ele que opera por seu Santo Espírito, de modo que somos enganados quando chegamos ali, mas realmente estaremos unidos e jungidos a ele. Portanto, é isto que temos de apreender neste lugar: tirarmos daí nosso proveito.
Agora, porém, focalizemos a bênção que Isaque ministrou. Depois de haver osculado seu filho, ele disse: “Eis que o cheiro de meu filho é como o cheiro do campo que o Senhor abençoou” [v. 27]. Muito embora vemos que ele era enganado, contudo, sob o cheiro dessa roupa emprestada, ele aceita Jacó, seu filho, como se fosse seu primogênito. Este, pois, é o cheiro pelo qual somos aceitos por Deus: ele procede daquele que é o primogênito na casa, a saber, de nosso Senhor Jesus Cristo.
Ademais, ele adiciona: “Deus te dê do orvalho do céu, e da exuberância da terra, e fartura de trigo e de mosto” [v. 28]. Aqui, à primeira vista, um homem julgaria que esta bênção nada mais implicava senão que Jacó seria robusto e bem nutrido. Porquanto Isaque não menciona aqui nenhum dom espiritual, como já mostramos previamente que não foi por alguma comodidade terrena, nem por riquezas, vantagens ou prazeres que Jacó seria abençoado. Como, pois, é possível conciliar essas coisas? Temos de manter esta regra que nos é dada nas Santas Escrituras, a saber, que a graça de Deus era sempre revestida, por assim dizer, com algumas figuras, até que nosso Senhor Jesus Cristo viesse. Porque, para que os pais obtivessem o perdão de seus pecados, tinham que matar algum animal, derramando seu sangue; algumas vezes eles queimavam a gordura e aspergiam o sangue. E acaso poderia um animal irracional, vos pergunto, apagar nossos pecados, pelos quais somos culpados diante de Deus? E como poderia o sangue apagar aquilo que em si nada continha senão corrupção? E, repito, quando a gordura era queimada de tal modo que não se podia suportar seu cheiro, como isso poderia ser feito para pacificar a ira de Deus contra os homens? Ora, em tudo isso alguém diria que Deus quer conservar seu povo aderido às coisas terrenas? No entanto temos de nos aproximar sempre daquele modelo que Moisés viu no monte, segundo o qual ele falou, e marca também o ponto para o qual somos enviados por Paulo e Estêvão. Assim, pois, como os sacrifícios implicavam mais do que exibiam, assim devemos notar que em todo o resto Deus guiava de tal sorte ao povo, que sempre entremeava alguma obscuridade. Pois seria preciso que isto fosse mantido até o advento de nosso Senhor Jesus Cristo, a fim de que víssemos simples e claramente a graça de Deus e a vida espiritual. Lemos que nosso Senhor Jesus Cristo é as primícias dos que ressuscitam.
Por que isso é assim? Não podemos atingir aquela ressurreição que nos é prometida, bem como aquela vida celestial, a menos que o vejamos marchando ante nossos olhos. Nossos corpos voltarão ao pó; o que podem eles prometer-nos? O fim de todos os homens nada mais é do que desespero. É como se tudo fosse abolido; e, no dizer de Salomão, a morte de um cão e de um homem, no tocante do corpo, é uma só. Assim, pois, se não visualizarmos o reino de nosso Senhor Jesus Cristo, é certo que tudo aqui será, por assim dizer, confusão; mas quando soubermos que ele já venceu a morte, e já ascendeu ao céu, então temos fácil acesso. Mas não foi assim nem sob a lei nem antes dela; pois os pais não tiveram a visão de nosso Senhor Jesus Cristo senão por meio de sombras. É verdade que alcançaram aquela vida celestial que é nossa, desfrutaram do mesmo espírito de adoção; invocaram a Deus por seu Pai; mas tudo isso era muito remoto e essas coisas lhes eram obscuras. E, assim, notemos que, por esta causa, não receberam aquela revelação que temos no evangelho. Pois cumpria que Deus os atraísse por aqueles meios que lhes fossem adequados. E isto é aquilo que Paulo diz em Gálatas [Gl 4.1, 2], que eram governados como crianças, e que a lei lhes era como que um tutor. Pois ainda quando uma criança já seja herdeira de seu pai, contudo ela não tem ainda que cuidar de sua subsistência, porquanto ainda não é capaz de assumi-la, porém está sob a diretriz de seu tutor. E ainda quando ela possa assumi-la, contudo não tem a liberdade de fazê-lo. Assim, pois, ainda quando os pais, sob a lei, já eram os herdeiros do reino celestial, como nós o somos, contudo ainda viviam em sujeição servil, sob a qual eram mantidos sob um tutor. Por quê? Porque esta honra, como eu já disse, ainda seria retida até o advento de nosso Senhor Jesus Cristo. Se os antigos pais ainda não haviam progredido, senão pouco a pouco, e como que por degraus, até atingirem a vida eterna, visto que essas coisas ainda lhes eram tão obscuras, e nosso Senhor Jesus Cristo ainda estava longe, como tudo isso teria sido? Porventura teria atingido seu propósito? Assim cumpre que Deus os socorresse e lhes estendesse suas mãos.
E, neste aspecto, a terra de Canaã lhes foi como que um penhor e fiança, de que Deus lhes designara uma herança superior a deste mundo. Pois poderiam regressar ao país onde nasceram, o qual aparentemente era mais fértil do que o da Judéia. Notemos bem que Abraão e Isaque se viram premidos pela fome, e se nada mais visualizassem senão a necessidade de se nutrirem nesta terra, teriam abandonado aquela terra da promessa. No entanto, descansaram ali. Por quê? Para desfrutar dela após sua morte? Inevitavelmente, pois, pensavam em algo mais elevado do que esta terra visível, e a tomariam em outro sentido além de dizer: “Aqui temos tudo quanto desejamos”. Todavia, contemplavam na terra de Canaã como que um penhor que Deus lhes dera, até que tomassem posse da vida celestial.
Assim, pois, ao mirarmos esta bênção de Jacó, a qual fala do orvalho do céu, da gordura da terra, da abundância de trigo e de vinho, não significa que Isaque orasse tão-somente por isto: que seu filho se nutrisse como suínos numa pocilga, e que ele fosse gordo e saciado aqui embaixo; mas ele seguiu a ordem que Deus designara naquele tempo, a saber, que lhes deu penhores de uma coisa que era muito mais excelente. E, que isso é assim, vemos no que Isaque adiciona logo a seguir: “Sirvam-te povos, e nações te reverenciem; sê senhor de teus irmãos, e os filhos de tua mãe se encurvem a ti” [v. 29]. E por qual direito ele lhe dá isto? Isaque não passa de um pobre forasteiro que tem de arrendar a terra onde possa hastear seu pavilhão, e aí viveria como que pelo favor de outrem. E, não obstante, aqui ele faz de seu filho Rei dos reis, e o mundo inteiro vem e lhe presta homenagem, e trará toda a terra em sujeição.
Vemos, pois, muito bem que ele não se atormenta com as coisas terrenas, senão que as enfeixa, ou, seja, ele toma as bênçãos terrenas como penhores a fim de trazer seu filho que jaz longe; e, entrementes, ele mantém seu passo firme para o guiar ao reino do céu, como lhe havia prometido. Ora, sabemos que as coisas nos são oferecidas em nosso Senhor Jesus Cristo, para nos fazer esquecer tanto as honras, como também todas as magnificências, dignidades e nobrezas do mundo.
Isto, pois, é o que temos de observar neste lugar. É verdade que mesmo hoje se faz necessário que aquelas bênçãos temporais que recebemos das mãos divinas nos sejam como que penhores de sua benignidade. Algumas vezes, porém, elas são mais, e outras, menos. Pois, com respeito ao fato de que os antigos pais não tiveram a mesma luz que ora temos, e tiveram sombras e figuras, isto se deve porque Deus não lhes testificou tão bem como fez conosco hoje. Pois no evangelho temos nosso Senhor Jesus Cristo; e lemos que devemos conformar-nos à sua imagem. Ora, bem sabemos que ele nada possuiu neste mundo, senão todo gênero de misérias e confusões. Pois vemos como ele foi crucificado, a ponto de parecer como se fosse totalmente abandonado por Deus, seu Pai. Ele sofreu aflições e angústias extremas. Assim, pois, devemos conformar-nos a ele, de forma diferente da deles, porquanto eles foram guiados por figuras.
Além do mais, quando comparamos Jacó com Esaú, perceberemos melhor (como veremos mais adiante) que, quando Isaque abençoou a Esaú, a bênção que ele aplicará em Esaú será em grande medida maior e mais rica do que aquela que ele aplica aqui em Jacó, seu filho. E, não obstante, esta bênção não lhe será para a vida celestial, porém lhe diz: “Meu amigo, não haverá duas bênçãos, visto que a tomada de mim permanecerá, e Deus abençoou aquele que eu tiver abençoado; visto que ele me designou ministro dela, faz-se necessário que ainda assim ela permaneça, como foi feito; eu não tenho mais direito nela; devo contentar-me em haver abençoado uma vez”. E, mais tarde, a despeito de tudo, ele abençoa a Esaú. Como assim? Porventura não existe alguma contradição? Certamente, não. Mas isso se deu para mostrar-nos que não existe nenhuma outra bênção celestial; ou, seja, aquele a quem ele abençoou seria a cabeça da Igreja, e que Jesus Cristo adviria de sua raça. Isto já não estava na mão de Isaque, como ele mesmo confessa. Mas, concernente aos benefícios deste mundo, e àquilo que pode satisfazer as criaturas, ele lhe deu com mais abundância do que fez a Jacó.
Agora, pois, podemos perceber facilmente que Isaque aqui está falando do orvalho do céu, da gordura da terra e de grande quantidade de trigo e de vinho, com isso não querendo dizer que seu filho labutaria aí, senão põe simplesmente diante dele estas figuras como meros penhores (como eu já disse) para projetar seus olhares para mais longe. Isto, pois, é o que temos de observar. E notemos ainda que, quando lemos que Isaque declarou: “A voz é de Jacó, porém as mãos são de Esaú” [v. 22], no entanto Deus havia adquirido isto para ele. É verdade que tudo isto foi feito em meio aos erros; no entanto, além deste erro particular, ele tinha certo conhecimento; e o Senhor o advertira sobre o mesmo com o fim de mostrar que a bênção pertencia a Jacó; como também de fato lhe seria reservada, muito embora ainda não houvesse acontecido; ou, seja, muito embora Rebeca não tivesse usado esta desditosa fraude, contudo Deus sabia muito bem como controlar a boca de Isaque, como também controlou a de Balaão. Eis Balaão, homem mentiroso, que fora contratado, e vem também com o intuito de amaldiçoar o povo de Deus, caso lhe fora possível, com o fim de receber dádivas de Balaque. Mas, não obstante isso, Deus converteu de tal modo sua língua que, quando pensou em amaldiçoá-los, malgrado seu, ele teve de abençoá-los. Isaque, porém, não era como Balaão. Pois seu propósito não era resistir a Deus, nem abolir sua eleição; senão que foi cegado com néscio amor acalentado por seu filho (como já dissemos). E nosso Senhor podia muito bem governar sua língua como bem lhe aprouvesse, a fim de fazê-lo abençoar a Jacó. Agora, porém, quando se propõe a abençoar a seu filho Esaú, não obstante Deus extrai isto de sua boca: “A voz é de Jacó”. Ora, isto foi a parte principal e primordial da bênção: a voz. Pois Isaque nada deu de si mesmo; porém foi testemunha do favor divino e, por assim dizer, um arauto a publicá-lo. Assim, pois, visto que ele nada achou de Esaú senão a roupa e o toque, não lhe restaria nada mais senão perceber em Jacó a voz. Por esse meio podemos ver que Deus ainda agora lho permitiria, ainda quando Isaque não soubesse o que fez, a despeito de a bênção haver voltado para Jacó. Daí, há muito sobre esta palavra. Além do mais, pela conclusão notamos bem, quando lemos que todas as pessoas se sujeitariam a Jacó, que isto não visava a que ele tivesse algum império ou domínio terreno neste mundo, seja dele, seja dos seus. É verdade que governaram na terra de Canaã, mas, o que quer que fosse, não mantiveram todas as nações em sujeição. Nos dias de Salomão, é verdade que Deus exaltou seu povo em todo o mundo de então; porém isto não passou de uma figura que corresponderia a nosso Senhor Jesus Cristo, que é a Cabeça de homens e anjos, respectivamente. Assim, pois, aquilo que Moisés relembra aqui, do domínio soberano, indubitavelmente não pode se harmonizar nem à pessoa de Jacó, nem a de seus filhos, nem a de toda sua posteridade, até o advento de nosso Senhor Jesus Cristo. E essa é a razão por que lemos expressamente que ele seria a cabeça de seus irmãos, e que os filhos de sua mãe se curvariam diante dele. Isto não ocorreu à pessoa de Jacó. Ele teve apenas um irmão, o qual não se curvou diante dele; mas, antes, ele mesmo fez isso movido de medo, como veremos mais adiante. No entanto, vemos a concretização de tudo isso em nosso Senhor Jesus Cristo; e ele não fez isso em prol de si próprio, mas em prol de nosso bem e de nossa salvação que ele recebeu de Deus, seu Pai, todo o poder, a fim de que todo joelho se dobrasse diante dele. É nele também que está o fato de sermos um reino sacerdotal, a fim de reconhecermos nele nosso Rei e nossa Cabeça, a assim o adorarmos.
| Agora, porém, estendamos nossos olhos para a majestade de nosso bom Deus, em reconhecimento de nossos erros, e orando para que ele de tal modo nos faça senti-los, que nos humilhemos diante dele e lhe roguemos perdão; e também para que odiemos a nós mesmos e nutramos aversão por nossos próprios vícios, e oremos para que ele se agrade de tal modo transformar-nos, que cresçamos mais e mais em toda a santidade e obediência de sua justiça. E que ele nos sustente em nossas fraquezas, de tal sorte que não deixe de cumprir as promessas que nos fez, ainda quando de nossa parte não só as negligenciamos, mas é como se totalmente as impelíssemos para longe de nós; senão que ele, não obstante, não deixou de estender-nos sua forte mão, até que cheguemos naquele sinal que ele pôs diante de nós, a saber, até que nos tornássemos participantes daquela glória que ele nos adquiriu através de nosso Senhor Jesus Cristo. E que ele não só nos exibirá esta graça, mas também a todos os povos e nações da terra etc. |
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About Sermões Sobre Eleição e ReprovaçãoEsta coletânea de sermões a partir do livro de Gênesis lida com um tema glorioso que, ao longo das eras, tem sido por vezes mal interpretado e ignorado da maneira mais injusta, e, na maioria dos casos, vergonhosamente negado e combatido. Calvino conduz o leitor destes sermões ao entendimento correto dessa doutrina profunda, fazendo com que encare a verdade bíblica da soberania do Criador e compreenda que Deus é Deus, de modo que não precisa apresentar justificativas ao homem nem lhe explicar o poder que o Oleiro tem sobre o barro, quando molda, para desonra, os vasos de ira preparados para a destruição. Embora nem todos os sermões tratem explicitamente sobre a predestinação, todos eles são profundamente doutrinários e práticos. Ao longo de todas as exposições, assim como em toda a teologia de Calvino, encontra-se o tema que perpassa todas as coisas: a soberania do Deus e Pai de Jesus Cristo. Esta soberania é o propósito e poder divinos governando todas as coisas que acontecem, a desobediência do réprobo e, de igual modo, a obediência do eleito, tudo para a glória de Deus na salvação da igreja de Jesus Cristo. Seguindo o apóstolo Paulo em Romanos 9, João Calvino via na história inspirada de Jacó e Esaú a revelação da predestinação eterna de certos indivíduos para a salvação, e de outros para a danação eterna. |
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