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DÉCIMO SERMÃO: Gênesis 26.26–34
De Gerar foram ter com ele Abimeleque e seu amigo Ausate e Ficol, comandante de seu exército. Disse-lhes Isaque: Por que viestes a mim, pois me odiais e me expulsastes de vosso meio? Eles responderam: Vimos claramente que o Senhor é contigo; então, dissemos: Haja agora juramento entre nós e ti, e façamos aliança contigo. Jura que nos não farás mal, como também não te havemos tocado, e como te fizemos somente o bem, e te deixamos ir em paz. Tu és agora o abençoado do Senhor. Então Isaque lhes deu um banquete, e comeram e beberam. Levantando-se de madrugada, juraram de parte a parte; Isaque os despediu, e eles se foram em paz. Nesse mesmo dia, vieram os servos de Isaque e, dando-lhe notícia do poço que tinham cavado, lhe disseram: Achamos água. Ao poço, chamou-lhe Seba; por isso, Beseba é o nome daquela cidade até o dia de hoje. Tendo Esaú quarenta anos de idade, tomou por esposa a Judite, filha de Beeri, heteu, e a Basemate, filha de Elom, heteu. Ambas se tornaram amargura de espírito para Isaque e para Rebeca.
Ainda quando os homens que vivem neste mundo estejam sujeitos a tantas misérias e aflições, não obstante a maior parte dos males que eles suportam procede de si mesmos, cada um deles vivendo como lobo para com seu companheiro. Vivemos cercados por bestas selvagens que nos constituem inimigos letais; não há no céu, nem na terra, nem em quaisquer outros elementos, que não usam para causar mil feridas. Não sabemos como sair da água sem que nos sintamos cara a cara com a morte. Aí basta um tormento para tragar uma pessoa. A terra também está saturada com muitos aborrecimentos, como se Deus nos ameaçasse de todos os lados. Mas quando fizermos comparação, não há bestas selvagens, nem no céu, nem na terra, nem em qualquer outra parte, que mais aborreçam os homens do que cada um ser aborrecido por seu semelhante. Ora, por esta causa devemos crer ser um benefício singular que Deus nos outorga quando ele nos confere paz sem nos oprimir e acossar de todos os lados, quando não se inventa contra nós nenhum malefício e não nos é feita qualquer ferida ou dano. Seria necessário que a proteção divina estivesse à mão, visto que cada um de nós será sempre como um lobo para seus semelhantes, como já dissemos. E este é o ponto para o qual tende esta presente história. Pois Moisés mostraria que, depois que Deus apareceu a Isaque, ele declara ainda seu favor para com ele, em que o rei de Gerar veio a ele e buscou sua amizade e compreensão, e dessa maneira Isaque foi honrado, e isso lhe foi especialmente de grande proveito, porquanto poderia estar sempre em dúvida, visto que fora grandemente invejado no país e se vira constrangido a partir dali, a despeito de haver vivido entre eles em toda humanidade e cortesia. Portanto, ele poderia ter vivido sempre em profundo suspense, temendo a fúria de seus semelhantes. Deus, porém, os fez vir a ele espontaneamente, e não só para se mostrarem amigos, mas, inclusive, o enaltecem e temem que ele os prejudique, e por isso exigem que haja entre eles uma solene aliança acompanhada de juramento. Ora, temos de notar aqui, acima de tudo, que Deus mantém os corações dos homens na palma de sua mão, a fim de mortificar sua dureza, quando lhe apraz, e abater toda sua fúria e convertê-la em cortesia e bondade. Pois, certamente o rei de Gerar não mudou sua natureza, quando veio ter com Isaque; e, por outro lado, se ele teve medo de Isaque, poderia ter conspirado com seus súditos e vizinhos a fim de manter sobre ele pleno domínio. Em contrapartida, ele não deu ocasião a que se duvidasse dele, visto que Isaque não propiciara ao rei qualquer argumento de desconfiança; antes, se comportara de tal sorte que declarou claramente que não desejava que houvesse qualquer pesar com sua presença. Pois já vimos como ele partiu da companhia deles. Seria necessário, pois, que Deus estimulasse essas pessoas profanas a fazê-las vir a Isaque e a se submeterem, quando fazem com tal humildade, que suplicam a um pobre homem, um forasteiro, que não desfrutava de muito crédito entre eles, nem tinha alguém mais além de sua família, a qual ele mantinha à parte, sem dar qualquer sinal de tentar algo dessa natureza. Antes de Deus pôr um cabresto no pescoço deles, ele quis provar a paciência de seu servo. Pois quando lhe foi negada água, e que por fim lhe foi dito que ele era mais forte que eles, e que ele já não podia suportar que houvesse dúvida de que Deus então o exercitava com o fim de testar que tipo de paciência havia nele. E por isso Isaque sabia que, se aprouvesse a Deus dar-lhe habitação pacífica naquele país em que ora se encontrava, então que não fosse expulso dali; mas, visto perceber que aqueles homens se empertigavam contra ele, então entendeu que esse era um passaporte divino para sua partida.
Agora, ao contrário, temos de notar ainda que Deus os movia a uma repentina aproximação de Isaque, e assim apaziguou e aboliu toda animosidade e disputas que ainda poderiam mover-se de um ou do outro lado. Portanto, notemos bem, quando se nos fizer algum ultraje, e ali onde tivermos diligenciado agradar e servir a outrem, que seremos estranhamente pinçado e atormentado, que isso será feito pelo desígnio de Deus, que quer que nos esforcemos, não para fazermos o mal, ou para querermos mal por mal, mas que possuamos nossas almas em paciência, como também nosso Senhor Jesus Cristo a isso nos exortou. E também, em contrapartida, quando virmos os homens nos favorecendo e não promovendo disputas nocivas ou tumultos contra nós, saibamos que Deus se compadecerá de nós, e que ele governa suas criaturas e as dirige para um propósito que ele vê ser bom. E, com o mesmo propósito, roguemos a Deus, assim que nossos inimigos ameaçarem alguma crueldade contra nós, e que de modo algum pudermos vencê-los, nem por alguma moderação que porventura usemos, então que lhe agrade estender sua mão, sabendo que ele pode reverter as coisas quando bem lhe aprouver, convertendo os que são lobos em ovelhas. Eis o que temos de aprender desta história, antes de qualquer outra coisa. Lemos, porém, que Isaque, na primeira vinda deles, falou bem rudemente, porém com sabedoria: “Por que viestes a mim, pois me odiais e me expulsastes de vosso meio?” [v. 27].
Veremos, pela sequência da matéria, que Isaque não nutria em seu coração rancor nem amargura, nem qualquer desejo de vingança. Porquanto foi imediatamente apaziguado, e quando censurou Abimeleque e toda sua companhia, indagando por que o odiavam e o perseguiam, ele não fez isso com o intuito de injuriar, como costumamos fazer. Pois se porventura nos for feita alguma ofensa, ou alguma injustiça, afiamos nossas línguas em maledicência e calúnia; nada há senão ódio, contendas e altercações; em suma, se pudermos estraçalhar os que nos tiverem prejudicado, faremos isso com prazer.
E isto é o que Salomão diz: “O insensato não tem prazer no entendimento, senão em externar seu interior. Vindo a perversidade, vem também o desprezo; e, com a ignomínia, a vergonha” [Pv 18.2, 3]. Então, quando os corações são assim incendiados, não é possível impedir que também as línguas derramem ultrajes uns contra os outros. Isaque, porém, não tomou tal curso. No entanto, temos de notar que, sempre que tivermos paciência, que isso não nos impeça de usar de nossa liberdade para exibir suas falhas e injustiças direcionadas contra nós, e assim fazê-los perceber sua ofensa, a fim de que todos tirem delas algum proveito.
É verdade que, neste caso, devemos examinar detidamente nosso sentimento, porquanto é algo mui difícil e raro ver um homem que foi provocado e ofendido que não se deixe levar a algum excesso de paixão, e com isso sempre está a promover sua causa pessoal. E, portanto, eu já disse que devemos tomar ciência e observar diligentemente se não estamos sendo tangidos por algum desejo de vingança, ou infectados com ódio ou rancor. Quando tivermos plena ciência disto, e conseguirmos nos redimir, então podemos abrir a boca e exibir sua ofensa, pôr à mostra sua injustiça, não com o intuito de nos vingarmos, condenando-os; mas para que não se vangloriem em seus pecados, já que este é um mal mui comum entre os homens. Portanto, eis um ponto que temos de observar com diligência, a saber, que a paciência dos fiéis não é totalmente isenta de alguma paixão, nem é contra esta que francamente lhes exibimos: “Vós me fizestes injustiça e tendes ofendido a Deus sem que tivésseis motivo de agir assim”, e assim por diante. Devem levar sempre em conta a salvação dos que os têm perseguido e têm se revelado seus inimigos. Pois este beliscão que Isaque lhes deu indubitavelmente foi uma admoestação com a qual buscava o bem e a salvação daqueles com quem ele falava tão rudemente. Pois se houvera dissimulado, que proveito lhes adviria disso? Os demais teriam imaginado ver aí profunda hipocrisia, caso tivesse demonstrado estar contente com eles, e o que eles ora faziam lhe era agradável, e que não demonstrasse outra coisa senão mel em sua boca, e dissesse: “Muito bem, é isso mesmo!”. Abimeleque, sabendo haver cometido erro, teria imaginado: “Eis aqui um homem de língua dupla e mentirosa”. Eis o que teriam lucrado com tal dissimulação e a visão de um rosto sereno. Assim, pois, ainda quando os filhos de Deus sejam pacientes e estejam sempre prontos a perdoar todos os erros cometidos contra eles, e seus corações não estejam gangrenados contra seus inimigos, contudo amiúde não deixam de dizer: “Vê a injustiça que praticaste contra mim”. E fazem isso para que todos saibam que são plenamente francos e transparentes. E é preciso que se mantenha sempre isto em mente: que, quando formos ofendidos, ou se praticar contra nós alguma injustiça ou extorsão, no entanto procuremos sempre o bem de nossos inimigos, e que as reprovações e acusações que lhes fizermos sejam tantas advertências e avisos a atraí-los ao caminho certo, bem como a sensibilizá-los, visando a que não sejam empedernidos e obstinados, e para que sejam mais bem prevenidos no futuro, e que não lutem contra Deus, imaginando que só têm a ver com os homens; como é bem provável ser o que o Isaque fez aqui, o que também faria provisão para o futuro. Pois isso nos será mui lícito, quando tivermos sofrido alguma injustiça, quanto estiver em nós fazermos, nos desvencilhemos dela. Pois ainda quando nosso Senhor Jesus Cristo nos ordene estar preparados, quando tivermos recebido um golpe numa face e volvermos a outra. No entanto, não significa que devamos seguir avante e provocar nossos inimigos, dando-lhes ocasião de usar-nos. Devemos evitar tal coisa quanto nos for possível; e por todos os meios bondosos e amorosos devemos deter a malícia dos que não têm em si o temor de Deus. Isaque, pois, neste caso, teve respeito por si mesmo. Mas seu intuito não era vingar-se e nem retribuir com a mesma medida. Ele simplesmente se contentou em pôr uma barreira contra todos os que o ameaçavam e o tratavam injustamente antes do tempo, para que se detivessem e cessassem com suas injustiças.
Sucintamente, isso é o que temos de aprender neste lugar, e esta é uma norma mui necessária. Pois amiúde, quando os homens se reconciliam entre si, devem manter silêncio, e então não haverá necessidade de nenhum outro meio. E, no entanto, aquele que tiver sustentado maior injustiça terá mais liberdade e mais ousadia em justificar-se contra aqueles que fazem crer que o cordeiro agitou as águas. Portanto, notemos bem que, quando alguém fizer dano a seu semelhante, se o mesmo não continuar com suas disputas pessoais com tanta intrepidez que ele desiste em razão disso, então será de bom alvitre que cada um se deixe advertir, e no que tiver errado, sem o saber, confesse-o e se humilhe. Vemos, porém, que isto não trazia grande proveito enquanto Isaque não fosse fundo no problema, embora visse que sua admoestação não era recebida, e que a mesma não atingia os corações daqueles a quem ele falava. Seja como for, ele não os enfrentou com rancor. Não obstante, notemos bem o que Abimeleque disse: “Jura que nos não farás mal, como também não te havemos tocado, e como te fizemos somente o bem, e te deixamos ir em paz” [v. 29].
Abimeleque não só oculta o mal que havia cometido, e o justifica; mas se vangloria de que havia cumprido seu dever para com Isaque de modo maravilhoso. Como já dissemos, esse é o procedimento comum. Pois não há nada mais difícil para um homem do que condenar a si próprio, ainda quando se sinta faltoso. Os homens se deixarão atrair no mesmo instante em que esta inferioridade for, não obstante, um emblema necessariamente requerido para o genuíno arrependimento. Pois se um homem sente que cometeu uma falha, e sente genuíno arrependimento, se faz indispensável que se confesse culpado diante de Deus, e igualmente em relação a seu semelhante, caso se requeira isso. E, portanto, Cristo, nosso Salvador, também nos exorta que, se tivermos alguma arenga com nossos semelhantes, isto é, caso os tenhamos ofendido, então que deixemos nossos sacrifícios junto ao altar e busquemos reconciliação, em vez de nos gabarmos, e endurecermos o coração, desprezando aqueles com quem estamos ligados. Ora, naquele momento ele fala de sacrifícios, mas é como se dissesse que não podemos orar a Deus, nem fazer algo que lhe seja aceitável, enquanto desdenharmos em reparar os erros que houvermos cometido. Ora, ainda quando Deus nos ordene que nunca nos humilhamos como nos convém, ao ofendermos alguém, contudo ninguém pode atingir este ponto; e aqui isso nos é ensinado sobejamente, na pessoa de Abimeleque e de seus companheiros. Pois os homens são de tal modo cegos, seja pelo egoísmo, pelo orgulho ou pela arrogância, que não podem de modo algum ser trazidos a este ponto, a saber, “De fato eu ofendi”. Porquanto se envergonham sempre de confessar sua culpa. E, no entanto, não se envergonham de ser condenados diante de Deus e de seus anjos; e, todavia, quando se sentem dominados pelo remorso, deveriam condenar-se com toda franqueza. Poderiam garbosamente delinear todas formas possíveis para manter sua corrupção? Mas quando tiverem vencido os grandes e os pequenos, seja através da corrupção, ou do favor, seja por algum outro meio, e o mundo inteiro tomar seu partido, contudo por fim comparecerão perante o tribunal de sua própria consciência, a qual não poderão resistir. E, como eu já disse, ali descobrirão ter lucrado nada por todos os seus sofismas e artifícios sensacionais. Porque, queiram ou não, se sentirão culpados diante de Deus. Ora, quando isto for posto diante de nós, isso se dá não para que durmamos em algum vício desse gênero, mas para estarmos atentos, sabendo que estamos sujeitos ao mesmo, e assim buscarmos o remédio. Portanto, quando Moisés diz que Abimeleque agiu como se estivesse bem familiarizado com Isaque (e sabemos ser o contrário pelo que temos discutido), ele diz isso não só para mostrar que Abimeleque era hipócrita e afeito à duplicidade, mas também para pôr um espelho diante de nossos olhos, para que tenhamos ciência que não existe entre nós alguém que não seja inclinado a lisonjear-se e não seja inclinado a favorecer uma causa ruim. Ainda quando estivesse suficientemente convicto de haver ofendido, não obstante seu orgulho não lhe permitiria submeter-se.
Este, pois, é o propósito e intenção de Moisés. Então, o que haveremos de fazer? Que todos se empenhem e sonde os recônditos de seu ser para descobrir o que está ali; e em seguida nós mesmos temos de examinar-nos detidamente, e assim descobriremos que entre nós não há nenhum que não oculte suas falhas e que não seja injusto para com seu adversário, quando nos engajamos em alguma disputa. E é por isso que buscamos as boas chances para escusarmos nossos embaraços e entraves, e assim convertermos (como se diz) o preto em branco, e vice-versa, a fim de nos justificarmos. Visto, pois, que estamos sujeitos a males tais como esses, então lutemos contra os mesmos. Pois não nos basta sentir nosso vício, mas temos também que renunciá-lo; e, renunciando-o, devemos ainda resisti-lo, mesmo quando não nos desvencilharmos totalmente dele. E, quando chegarmos a pôr isto em prática, e tivermos ofendido a esta pessoa, ou àquela, não permitamos que os homens empanem nossos olhos, mas que cada um desista de seu próprio segredo e diga: “E agora, o que posso fazer? É verdade que posso com razão prejudicar meu adversário, pois ele me ofendeu assim e assim. Mas, a despeito de tudo, sou mesmo inocente diante de Deus e de seus anjos? É oportuno que eu comece a julgar-me. Pois ainda quando eu seja um cego pobre e miserável, contudo eu sinto em meu íntimo que de fato ofendi e não posso mentir para mim mesmo; e, entrementes, porventura Deus pode ser enganado? Quando eu tiver dissimulado com toda astúcia, ele não descobrirá uma mínima gota da verdade. Assim, pois, não há outro meio de eu ser absolvido e aliviado diante de Deus sem que eu mesmo me condene”.
Note-se, pois, repito, como devemos praticar esta doutrina e a aplicar ao nosso uso e comodidade. E, em suma, muito embora ofendamos, notemos que o arrependimento tem embutido em si a confissão; não significa ir e cochichar nos ouvidos de um sacerdote, como se faz no papado, mas uma confissão que dá glória a Deus e também procura fazer emenda pelo erro cometido contra nossos semelhantes. E, portanto, aos que cometem alguma injustiça ou ultraje contra outrem, cabe laborar a emenda dela, humilhando-se; e, seja como for, que não se envergonhe de dizer: “Eu te ofendi; peço que me perdoes”. Pois, observe-se também como obteremos favor e perdão diante de Deus e por qual meio tais erros cometidos contra nossos semelhantes não clamarão por vingança contra nós. Pois, indubitavelmente, embora aqueles contra quem fizemos injustiça fiquem satisfeitos e já não pensam nela, contudo o mal estará arrolado na presença de Deus e clamará em alta voz diante de sua majestade, mais do que se todos os homens se armassem e se pusessem contra nós. Assim, pois, para que nossas faltas sejam apagadas e canceladas diante de Deus, e para que não haja mais clamor que apresse ao Senhor a dar seu veredicto contra nós, em virtude das ofensas que cometemos, aprendamos de tal sorte a apaziguar todas as porfias e disputas, humilhando-nos através de uma confissão íntegra e pura, e assim impedindo a consequência.
Isto é o que devemos observar sobre este ponto. Ora, em contrapartida, lembremo-nos que já falamos de Isaque que não tinha, como se diria, um coração ensoberbecido, tampouco nutria qualquer tipo de rancor contra alguém como se fosse inimigo. Pois ele não os perseguiu, nem de fato tinha motivo especial contra Abimeleque e seu séquito. Pois, no dizer de Paulo, não podemos julgar os que não pertencem ao rebanho e corpo da Igreja, nem podemos conduzi-los ao arrependimento, como podem fazê-lo os que fazem profissão do Cristianismo, os quais se dispõem (quanto está neles) a receber admoestação por suas culpas. Pois esta é a ordem que Deus dá a todos quantos são dele: que se sujeitem a receber admoestação, seja dos grandes, seja dos pequenos.
De modo que há, por assim dizer, uma jurisdição mútua sem espada e sem autoridade, se cumprimos nosso dever. Pois todos quantos trazem a palavra de Deus em seus lábios é como que um juiz a exibir a seu semelhante as faltas que este tem cometido. Ele será um juiz em um aspecto e se deixará julgar em outro. Notemos bem, pois, como julgamos os da família da fé, no dizer de Paulo, isto é, os que pertencem ao corpo e fazem parte da religião dos fiéis e dos filhos de Deus. Mas, os estranhos, ainda quando os condenemos, contudo não podemos tratá-los com tanta familiaridade, dizendo: “Tu me ofendeste”. Porquanto não têm tanta familiaridade conosco e não existe aquele direito mútuo que há entre os membros do corpo da Igreja. E esta é a razão por que Isaque não trata com tanta delicadeza a Abimeleque e a seu povo, como se fossem comprometidos à mesma fé e adorassem ao mesmo Deus e pertencessem à mesma Igreja, sem terem uma e a mesma ordem estabelecida entre eles. É bem provável que Isaque não deixasse passar por alto tal coisa sem dizer: “O quê?! Vindes aqui com vossas bazófias, como se fôsseis meus bons amigos, sem usardes de nenhuma cortesia para comigo? E que cortesia é essa, negando-me água, sim, e entupindo os poços que eu mesmo cavei com minhas próprias mãos e o suor dos que estavam comigo? E isto não vos causaria nenhuma perda ou obstáculo; e, contudo, por vossa malícia tentastes arrancar meus olhos e, por fim, me expulsastes e não me destes morada entre vós. Que tipo de amigos sois vós?”.
Isaque, pois, poderia ter insistido em manter sua causa, se Abimeleque fosse capaz de receber tal reprovação. Mas lhe era suficiente expor graciosamente seu sentimento. Porque, visto que Abimeleque não se deixaria corrigir, tampouco possuía qualquer requisito para o arrependimento, por isso o deixou. Assim, pois, quando tivermos labutado para conduzir ao arrependimento aqueles que nos tiverem causado ofensa, se notarmos que são obstinados, então já não podemos pressioná-los nem insistir com eles. É verdade que, se forem membros da Igreja, então que insistamos que renunciem sua obstinação; e, se não demonstrarem interesse em expor-se, e notarmos que não revelam aversão por seus erros, por isso mesmo os tenhamos como derrotados. Portanto, notemos bem como nos cumpre tratar com os que se mostram por demais selvagens e de coração empedernido. “Meu amigo, agora exibes tua impudência. Antes eu já havia percebido que vagueavas fora do caminho certo; agora, porém, vejo que és totalmente extraviado e sem qualquer esperança. Pois tu manifestamente desprezas a Deus. E o que ganhas com isto ou com aquilo? Porquanto tua ofensa é bem notória.”
E assim podemos muito bem lançar abaixo os que acreditam que, por sua resistência e obstinação, podem ganhar sua causa. Mas se temos de lidar com aqueles que não têm nenhuma familiaridade conosco, e não são nossos irmãos, nos seja suficiente exibir-lhes a verdade numa só palavra. Pois isto será a duras penas arrancado deles, se cremos não haver nada melhor que se humilhem. E, de nossa parte, quando formos reprovados por alguma ofensa, não esperemos que haja um prolongado processo e muitas investigações para que haja convicção, por assim dizer, por força de muitas testemunhas; ao contrário, recebamos a correção com paciência, enquanto se nos oferece ocasião, e não sejamos como aqueles que vomitam um punhado de cinzas e abafam a clara luz. Portanto, confessemos nossos erros; pois este é o único remédio, a menos que queiramos resistir a Deus. E saibamos que, quando se nos ministra alguma advertência ou admoestação, então Deus quer que sintamos sua graça e que ele é solícito em atrair-nos de volta para si, a fim de não perecermos nem nos mantenhamos obstinados e nem que Satanás tome posse de nós. Tenhamos ciência disto, a fim de alcançarmos o arrependimento e a verdadeira humildade.
Ora, Isaque demonstra ainda mais que ele não conserva na mente vingança ou inimizade, ainda quando o tenham ofendido. Porquanto prepara um banquete, e comem e bebem juntos. Eis um ponto sobre o qual temos de meditar detidamente. Pois isto mostra ainda como devemos lutar contra nossos sentimentos, ao longo de toda nossa vida. De modo que este é, por assim dizer, o abc dos cristãos: não retribuir mal com mal; mas, em contrapartida, pagar o mal recebido com o bem, granjeando vitória nesta matéria, na qual não podemos permitir fantasias. Este, repito, é, por assim dizer, nosso abc; e não existe em nós tal perfeição, mas que devemos começar aqui. Mas, tão logo desejemos e nutramos vontade de servir a Deus, cumpre-nos que sejamos despojados de toda amargura, ódio e rancor, bem como de todo desejo de vingança, não só perdoando nossos inimigos, sem lembrarmos o dano recebido, mas também que estejamos prontos a fazer-lhes o bem.
Ora, pois, quem é que cumpre sua parte cem vezes? Mas, descobriremos, ainda quando tantos pareçam (como se diz) ser anjinhos, e nada possuem senão um fervoroso desejo de servir a Deus, e honrá-lo, sim, e nada existe neles senão amor e neste são resolutos e bem firmados, contudo, tão logo se veem provocados, a peçonha lhes bafeja e revela residir neles por tanto tempo, que guardam em seus corações a lembrança de alguma ínfima ofensa, ao longo de toda sua vida. Portanto, quando percebem que não podem ser purgados, nem no primeiro dia, nem no primeiro ano, deste maldito senso de vingança, tanto mais devemos aplicar este remédio, para que sejamos ordenados e governados pelo Espírito de Deus; não para adormecermos em inimizade e rancores [amargura, profundamente radicada na indisposição]; mas, perdoando-os espontaneamente, e sendo inteiramente pacientes em todas as coisas. E assim seremos sobejamente beneficiados durante toda nossa vida, quando tivermos aprendido a que utilidade esta história de Isaque nos é prescrita, a saber, que ele preparou um banquete para seus inimigos, não numa cerimônia, ou por mera pro forma, mas para mostrar que ele era puro e limpo de toda e qualquer malícia, e que ele havia esquecido e sepultado todas as ofensas, em virtude das quais viessem a lançar mão de alguma disputa.
Ora, logo depois, lemos: “Levantando-se de madrugada, juraram de parte a parte”. É verdade que Isaque teve prejuízo, quando os outros demandaram dele que lhes prometesse e jurasse a não lhes fazer mal nem injustiça. Porquanto tinham prova suficiente que não viam nele um homem violento, nem alguém dado à prática de qualquer mal. Por que, pois, ainda vieram inquietá-lo? Ele poderia ter protelado tudo isso, no entanto cede algo de seu direito; como quando alcançamos paz entre os homens, devemos ter sempre isto em mente: não fazer a eles na mesma medida do mal que nos fizeram; mas, por tudo isso, não desafiemos demais nem conservemos tudo quanto nos pertence, sem lhes entreguemos sequer uma migalha (como se diz) disso. Pois se cada um de nós se aferrasse demais a seus direitos pessoais, os homens jamais poderiam ser unidos e viver juntos. E ainda quando isso fosse possível, jamais poderiam cessar, dia e noite, de ter novas ocasiões de devorar e comer uns aos outros. Há, pois, apenas uma maneira de fomentar a paz e a concórdia, a saber, que ninguém busque aquilo que é propriamente seu, como também Paulo faz menção disso, falando-nos do amor, em 1 Coríntios 13, onde afirma [v. 5] expressamente que o amor tem esta propriedade: “não busca seus interesses”. E, além do mais, quando nos exorta a vivermos pacificamente, e que devemos fomentar o amor fraternal, e que nenhum de nós deve nutrir ambição, nem o desejo de ser mais, maior, mais elevado, e tirar vantagem sobre outrem. Pois o termo de que faz uso significa a ausência do senso de superioridade ou de levar vantagem sobre outrem. Ora, enquanto tivermos tal desejo (como eu já disse), haverá um fogo constantemente aceso e assoprado; há mil maneiras de Satanás manter-nos em constante discórdia, em guerra, dissensão e contenda tais que mais pareceríamos completamente arruinados. Por isso, notemos bem a que propósito devemos fomentar a amizade e a concórdia fraternal entre nós e nossos semelhantes, cabendo a todos a que renunciem e cedam seus direitos pessoais, e que todos não mantenham este extremo, dizendo: “Manterei, a todo custo, o que é meu, e o perseguirei, e de maneira alguma abrirei mão de nada”. Quando este for nosso comportamento, certamente o diabo descobrirá sempre alguma forma solerte de acender o fogo da discórdia e intriga verbal e, por fim, a guerra.
Isto, pois, é o que temos de aprender no tocante a este texto. Aqui, porém, a propósito, vemos que é lícito para os filhos de Deus manter associação e amizade com os pagãos, e tais como os que nada professam além da falsa religião, enquanto não nos obrigarem nem nos atarem ao mesmo jugo. Pois devemos ter sempre em mente aquela admoestação de Paulo, que diz: “Não vos ponhais em jugo desigual com os incrédulos; porquanto que sociedade pode haver entre a justiça e a iniquidade? Ou que comunhão da luz com as trevas?” [2Co 6.14]. Pois ele fala isto à guisa de comparação, como se dois bois fossem jungidos um ao outro, presos na mesma canga, e um correspondesse ao outro. E, ainda quando sejam selvagens, e às vezes se digladiem, contudo, sendo atados pelos pescoços com uma canga, se veem obrigados a seguir a mesma trilha. Paulo, assim, nos mostra que não devemos deixar-nos jungir aos incrédulos, de tal sorte que nos vejamos presos com suas cadeias, e que nos vejamos tão emaranhados com eles que passamos a consentir no mal, nem em algum aspecto nos deixemos atar a eles, mas na medida que pudermos fomentar a paz, conter os ultrajes e violências, nos será sempre lícito manter compromisso com eles. Portanto, atentemos bem para que vivamos separados de toda a malícia deles, e nesse particular não temos nenhuma familiaridade com eles, e especialmente que condenamos sua iniquidade, quanto estiver em nós, de modo que não sejamos nem companheiros nem irmãos dos perversos, nem seus cúmplices, como lemos especialmente no Salmo 15, que devemos sentir aversão por eles. Mas, não obstante, devemos deter sua fúria e eliminar toda e qualquer ocasião de dano, e fechar a porta contra eles, para que não ponham em prática seus empreendimentos indecentes, e assim deter seu mal por nos associarmos com eles, de modo que sua danosa licenciosidade não flua livremente, quando previamente tivermos posto tal obstáculo diante deles. Sim, percebemos que Deus nos tem mostrado este favor e graça de tomarmos seu nome como testemunha e assim podermos garantir uns aos outros. Com isso ele mostra quão aceitável lhe é a concórdia entre os homens e quão detestável lhe são todas as intrigas, guerras, injustiças, prejuízos, ultrajes e opressões, que os homens praticam uns contra os outros. Porquanto não é algo sem importância que Deus permita que seu próprio Nome seja usado e, por assim dizer, penhorado. E quando um príncipe der algum de seus filhos por penhor, ele fará isso com grande dificuldade e azáfama; nosso Senhor, porém, dá seu próprio Nome por penhor quando houver motivo para se fomentar a paz entre nós; sim, e quando o problema demandar que haja concórdia entre nós e os infiéis, a fim de que abram mão de sua fúria contra nós e não nos firam. Visto, pois, que Deus se dignou de permitir que seu próprio Nome seja usado para tal propósito, tanto mais devemos estar propensos a buscar, por todos os meios possíveis, que os homens sejam pacificados, e que não tenhamos disputas com eles; sim, que busquemos apaziguar os que se acham excitados e (quanto está em nós fazê-lo) impedi-los. No entanto, não podemos efetuar tal coisa totalmente, quando percebermos alguma disputa já em andamento, mesmo que tudo façamos para abafá-la, sim, usando os meios de que já falei, a saber, renunciando o ultraje, quanto nos for possível fazê-lo.
Esta, pois, é a suma do que já aprendemos. Ora, neste lugar não somos informados de que forma juraram; porém, mais adiante descobrimos que Isaque sempre fazia seu juramento ao Deus vivo e eterno, rendendo-lhe a honra que lhe é devida, ainda quando tivesse que fazê-lo aos pagãos que forjavam ídolos e corrompiam o verdadeiro culto divino através de suas próprias superstições; não obstante, ele prosseguia em sua própria integridade. Daí dizer-se, quando seus servos voltavam (como expusemos ontem), lhe diziam: “Encontramos água viva”. E, depois, acrescenta acerca de Esaú: “Tendo Esaú quarenta anos de idade, tomou por esposa a Judite, filha de Beeri, heteu, e a Basemate, filha de Elom, heteu”.
Aqui vemos, de um lado, como Deus conforta seus servos de todas as formas. Pois não só lhe foi mostrado que doravante lhe seria assegurado que ninguém o prejudicaria, visto que o próprio rei do país viria à sua procura, mas também lhe seria dado água para que desfrutasse pacífica e tranquilamente, como sendo propriamente sua. Quando, pois, nosso Senhor exibe tão grande favor para com Isaque, saibamos que ele não o prova além de sua força, senão que sempre suaviza suas aflições, em tal medida, que não seria como se estivesse perenemente sob pressão e plenamente arruinado. E esperemos que, assim como Isaque nem sempre foi sustentado, e que Deus, depois de o haver afligido, o contemplou novamente para dar-lhe algo com que fosse confortado, assim também devemos esperar, e então não seremos decepcionados, se descansarmos nele. Porquanto Deus conhece nossa fragilidade, e sem dúvida ele nos dará sempre tal prova de mercê e favor, que teremos bons motivos de bendizer seu Nome, e não teremos ocasião de nos entristecermos de tal sorte, que já não sabemos como confortar-nos nele.
Mas o ponto principal é que Esaú tomou para si duas esposas dentre os heteus. Aqui já começamos a ver que Esaú era não só profano, mas que continuou nessa trajetória e seguiu totalmente esse rumo, como temos mostrado até aqui; depois de haver saciado bem seu estômago com o prato de lentilha que Jacó, seu irmão, lhe preparou, e depois de haver comido e bebido, seguiu seu caminho e desprezou sua primogenitura. Moisés ainda relembra que ele tomou duas esposas dentre os heteus, porque, se porventura ele sentisse algum remorso em seu íntimo, e que levasse em alta conta a promessa da herança espiritual feita a seu pai, é indubitável que ele se teria mantido afastado de todos os povos. Porquanto ele sabia muito bem como seu avô Abraão se comportara nesse ponto, fazendo seu servo jurar solenemente que não tomaria esposa para seu filho Isaque na terra de Canaã. Ele sabia que sua mãe fora buscada num país distante, na Mesopotâmia, porque Deus queria que esta casa fosse, por assim dizer, separada e não queria que ela se misturasse e se envolvesse com os daquele país. Portanto, o que ele faz, quando toma duas esposas dos habitantes de Canaã, aos quais Deus havia amaldiçoado? Era como se houvera esquecido a promessa de salvação, e como se houvera renunciado a fazer qualquer reconhecimento dela como se não valesse mais que uma palha. Este já é um testemunho de como Esaú se fez indigno de sua primogenitura; e isso ocorreu porque ele não se deixou governar pelo Espírito de Deus, como também já mostramos que Deus de tal modo sustentará e guardará seus eleitos, e de tal sorte ratificará e selará em seus corações sua benignidade e adoção paterna, e que pairarão acima deste mundo e o desprezarão, para que se regozijem naqueles benefícios espirituais que ele lhes preparou; mas, em contrapartida, aprouve-lhe soltar as rédeas de todos aqueles a quem ele rejeitou, de tal sorte que se endurecem; e embora isto não seja feito de uma vez e no primeiro relance, não obstante um homem descobrirá, no fim, que não há neles nenhuma semente do temor de Deus nem de piedade.
Portanto, isto é o que temos de entender neste lugar. E, acerca disto, aprendamos a comportar-nos de tal modo que sempre labutemos em viver separados daqueles que nos induzem à destruição. Pois é sem a menor sombra de dúvida que, se vivermos em íntima familiaridade com os escarnecedores de Deus, eles logo nos macularão; pois sua companhia e conversação constituem uma mortífera pestilência. E tanto mais nos cumpre andar aqui em prudência, atentando bem para nós mesmos a fim de não nos macularmos com as imundícias deste mundo. E que nesse meio tempo reconheçamos ser também uma prodigiosa providência de Deus que ele quisesse que Esaú tomasse duas esposas neste país. Porquanto isto visava a que ele fosse, por assim dizer, cortado da casa de seu pai Isaque. Este o amava muitíssimo, e ainda quando suas esposas o irritassem, não obstante por tudo isso ele não pôde desvencilhar seu coração de Esaú, ainda que soubesse que Deus o havia rejeitado. E nisso ele resistia a Deus, sem nunca pensar seriamente no problema. Deus, porém, operava aqui de uma outra maneira. Quando viu tal fraqueza em seu servo Isaque, ele passa a vias de fato, fazendo-o renunciar totalmente a seu filho Esaú. Notemos, pois, como Deus governava tudo de tal sorte que sua Igreja continuou sempre em sua pequenez, por assim dizer, oculta debaixo da terra, como se fosse nada. Ali ninguém mais restou além de Jacó, como veremos no momento oportuno, e Isaque já era um tanto esgotado. Ele já não era novo quando Esaú tomou suas esposas; portanto, ele já era bem idoso. E, concernente a Jacó, este também já tinha quarenta anos e ainda não era casado. E onde, pois, estava sua estirpe? Era como se a Igreja de fato perecesse e todas as promessas de Deus fossem totalmente abolidas. Mas, embora ela fosse tão pequena a ponto de ser desprezível aos olhos humanos, contudo vemos que Deus de tal sorte governava sua Igreja, que ela permanecia pura e íntegra, e aquilo que era profano nela foi eliminado, como uma casa, quando varrida, o lixo é jogado fora da porta. Assim sucedeu que Esaú foi rejeitado, e Jacó ficou sozinho, como também a herança lhe foi designada.
| Agora, porém, curvemos nossos joelhos diante da sublime majestade de nosso bom Deus, com o reconhecimento de nossos erros, e orando para que ele nos faça senti-los de tal sorte que isso sirva para levar-nos a um lamento contínuo diante dele, e rogar seu perdão de tal sorte que nos esforcemos por resisti-los e mais e mais nos desvencilharmos deles, até que sejamos totalmente revestidos com sua justiça. E que ele nos suporte em nossa fraqueza, de modo que jamais deixemos de invocá-lo como nosso Pai, ainda quando caiamos de diversas maneiras. Portanto, digamos: Ó Todo-Poderoso Deus, Pai celestial etc. |
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About Sermões Sobre Eleição e ReprovaçãoEsta coletânea de sermões a partir do livro de Gênesis lida com um tema glorioso que, ao longo das eras, tem sido por vezes mal interpretado e ignorado da maneira mais injusta, e, na maioria dos casos, vergonhosamente negado e combatido. Calvino conduz o leitor destes sermões ao entendimento correto dessa doutrina profunda, fazendo com que encare a verdade bíblica da soberania do Criador e compreenda que Deus é Deus, de modo que não precisa apresentar justificativas ao homem nem lhe explicar o poder que o Oleiro tem sobre o barro, quando molda, para desonra, os vasos de ira preparados para a destruição. Embora nem todos os sermões tratem explicitamente sobre a predestinação, todos eles são profundamente doutrinários e práticos. Ao longo de todas as exposições, assim como em toda a teologia de Calvino, encontra-se o tema que perpassa todas as coisas: a soberania do Deus e Pai de Jesus Cristo. Esta soberania é o propósito e poder divinos governando todas as coisas que acontecem, a desobediência do réprobo e, de igual modo, a obediência do eleito, tudo para a glória de Deus na salvação da igreja de Jesus Cristo. Seguindo o apóstolo Paulo em Romanos 9, João Calvino via na história inspirada de Jacó e Esaú a revelação da predestinação eterna de certos indivíduos para a salvação, e de outros para a danação eterna. |
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